sexta-feira, 4 de maio de 2007

A linguagem dos sonhos


FONSECA, Rubem. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. 6.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. 287 p. 14 x 21 cm.

Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca é formado em Direito, tendo exercido várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à literatura. Em 31 de dezembro de 1952 iniciou sua carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Muitos dos fatos vividos naquela época e dos seus companheiros de trabalho estão imortalizados em seus livros. Ficou pouco tempo nas ruas. Na maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 06 de fevereiro de 1958, foi um policial de gabinete. Fazia o trabalho de relações públicas da polícia. Em julho de 1954 recebeu uma licença para estudar e depois dar aulas sobre esse assunto na Fundação Getúlio Vargas, no Rio. Na Escola de Polícia destacou-se em Psicologia. Contemporâneos de Rubem Fonseca dizem que, naquela época, os policiais eram mais juízes de paz, apartadores de briga, do que autoridades. Zé Rubem via, debaixo das definições legais, as tragédias humanas e conseguia resolvê-las. Nesse aspecto, afirmam, ele era admirável. Escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos, entre setembro de 1953 e março de 1954, aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University. Após sair da polícia, Rubem Fonseca trabalhou na Light (empresa de capital canadense) até se dedicar integralmente à literatura. É viúvo e tem três filhos.

Vastas emoções e pensamentos imperfeitos é tão instigante, que até mesmo as peças publicitárias usadas na divulgação do livro foram alvo de discussões de trabalhos acadêmicos, por serem publicadas em lugares não muitos usados para a promoção de livros. Mas a peça publicitária mais inusitada foi destinada ao espaço dos jornais dedicado aos anúncios de casas de massagem e saunas, cujo título era Bem Dotado: “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. O novo romance de Rubem Fonseca, um dos maiores dotes da literatura brasileira. Relaxe e aproveite. Nas livrarias. Companhia das Letras”.

Com essa obra, Rubem Fonseca nos leva ao mundo de um cineasta narrador que ao receber de uma desconhecida uma caixa com pedras preciosas, passa a desconfiar que esteja sendo perseguido por um assassino, e se sente dentro de um filme de suspense. Ao mesmo tempo o cineasta tenta transformar contos do escritor judeu soviético Isaak Bábel em roteiro para um filme, que foi convidado para rodar na Alemanha. Vê, então nesse convite, a chance de fugir de possíveis assassinos. Uma vez estando em Berlin, descobre um manuscrito nunca publicado de Bábel, e resolve roubá-lo. Volta ao Brasil, onde é capturado por um homem de capa preta, que já o perseguia, antes mesmo de ir à Europa.

Além da realidade perturbadora que o cerca, a falta de lógica racional da linguagem inconsciente de seus sonhos o perturba. Amores e pensamentos distintos o confundem. E por falar em amores, como em “Bufo e Spalanzani” e em “Do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto”, os personagens de Rubem Fonseca, possuem diversas amantes, nessa obra não é muito diferente, o personagem principal tem a sua jornada marcada por noites quentes, ao lado das mais misteriosas e ardentes mulheres. Pessoas que em nada são exemplos de moral completam o grupo de personagens.

O desfecho eu não vou contar. Cabe ao leitor descobrir o que aconteceu com o cineasta brasileiro que roubou o manuscrito de Babel. Experimente medir a sua moralidade.

Vastas emoções e pensamentos imperfeitos nos leva para dentro de um filme de suspense, nos prende a história, nos deixa morrendo de curiosidade sobre o destino dos personagens. Faz-nos levantar questões pessoais, como, o que é certo? O que é errado? E até que ponto algo está errado? Rubem Fonseca é um tanto perturbador, porém fascinante.

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